sábado, 31 de julho de 2010

Pastorais antidepressivas

Variações de ânimo

Num Salmo Davi proclama: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). Noutro Salmo, logo a seguir, o mesmo Davi confessa: “Estou cansado de tanto gemer; todas a noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago” (Sl 6.6).

Não há contradição em Davi. Ele foi sincero em ambas as declarações. Acontece que não falou essas coisas no mesmo dia, na mesma ocasião. Numa noite, o salmista estava muito bem. Noutra noite, muito mal.

Isso ocorre com todos nós. Ninguém está sempre muito bem. Ninguém está sempre muito mal. Há dias ensolarados e há dias sombrios. Há ocasiões de alegria e ocasiões de tristeza. Há circunstâncias favoráveis e circunstâncias desfavoráveis. Há situações confortáveis e situações desconfortáveis.

Existe uma alegria fácil e uma alegria difícil. A primeira é uma alegria espontânea, a segunda é uma alegria conquistada. A alegria fácil depende de um dia bonito, depende da ausência da adversidade, depende de calmarias entre uma tempestade e outra. A alegria difícil depende da comunhão com Deus, depende da fé, depende da aceitação de certas carências, depende de aprendizado às vezes longo e demorado. É a experiência de Paulo: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.11). Antes, o apóstolo tinha dificuldade de conviver com a humilhação, com a fome, com a escassez. A alegria conquistada vale mais que a alegria espontânea, porque custa um preço.

Nem sempre a alegria dura muito tempo. De igual modo, nem sempre o choro dura muito tempo. Um estado de espírito pode empurrar o outro sem mais nem menos. É o próprio Davi quem lembra: “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5).

Como homem, Jesus experimentou tristeza. Depois daquela agradabilíssima reunião no cenáculo, Jesus “começou a entristecer-se e a angustiar-se”, ali no Getsêmani. Foi nessa ocasião que Ele confidenciou a Pedro, Tiago e João: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.37-38). Ao referir-se a esse passo da vida de Jesus, o autor da Epístola aos Hebreus afirma que o Senhor deixou então escapar “forte clamor e lágrimas” (Hb 5.7). Três dias depois, porém, estourou a alegria da ressurreição. Os discípulos devem ter se lembrado da lição que Jesus lhes havia transmitido: “Quando a mulher está para dar à luz, fica triste porque chegou a hora de sofrer. Mas depois já não se lembra mais do sofrimento, pois está feliz porque nasceu uma criança” (Jo 16.21, BLH).



Vontade de ser curado

Existe o grande perigo de alguém se acostumar com o sofrimento e não esboçar mais nenhum desejo de alívio. O que leva a isso é uma assustadora apatia provocada pelo tempo, pelo desgaste emocional, pela acomodação, pelas tentativas infrutíferas e pela falta de ânimo.

A primeira coisa que Jesus fez com o paralítico de Betesda foi perguntar-lhe: “Você quer ficar curado?” (Jo 5.6, BLH). Jesus perguntou também aos dois cegos de Jericó: “O que é que vocês querem que eu faça?” (Mt 20.32, BLH).

No caso do paralítico, ele estava junto ao tanque de Betesda havia 38 longos anos, deitado, sempre à espera de uma alma caridosa que o jogasse na água antes dos outros. Era um drama de 38 anos e uma espera também de 38 anos. Teria o paralítico se acostumado com aquela incômoda situação, com aquela longa dependência dos outros, com aquela terrível imobilidade física?

A pergunta de Jesus tem cabimento e é válida também para hoje e para outros casos de infelicidade. A um casal prestes a se separar, Ele pergunta: “Querem que Eu os ajunte outra vez?” A um enlutado, Ele pergunta: “Quer que Eu o console?” A um alcoólatra, Ele pergunta: “Quer que o liberte do álcool?” A um dependente de droga, Ele pergunta: “Quer que Eu o livre das drogas?” A um endemoninhado, Ele pergunta: “Quer que Eu lhe expulse o demônio?” A um homossexual, Ele pergunta: “Quer que Eu lhe restaure a identidade sexual?” A um pecador, Ele pergunta: “Quer que Eu o perdoe?”

A pergunta de Jesus desperta a vontade daquele cuja esperança está a zero. Ela provoca conhecimento próprio, provoca reflexão, provoca reação. Diante da esperança despertada ou renovada, a pessoa sofrida diz outra vez: “Quero ser curado”, “Quero tornar a ver”, “Quero restaurar meu casamento”, “Quero ser consolado”, “Quero ser liberto do álcool e das drogas”, “Quero ficar livre do demônio”, “Quero ser curado do homossexualismo”, “Quero ser perdoado”.

Um dos grandes entraves na recuperação física, emocional, moral e espiritual do indivíduo é a falta de sólida e verdadeira vontade de ser curado. Disto o homem deve se guardar zelosamente.



Uma notícia encantadora

Somos em tudo dependentes do Senhor. Mas há uma situação em que essa dependência é muito maior. É quando estamos estranhamente confusos, complicados e abatidos, com intrincados problemas emocionais.

Em uma circunstância assim, soa como encantadora notícia a declaração de que o Senhor “apruma todos os prostrados” (Sl 145.14) ou a declaração de que “o Senhor levanta os abatidos” (Sl 146.8).

Ainda que possam e devam ajudar, o alívio nem sempre vem da farmacologia e da psicoterapia. Às vezes o problema é complexo demais e insistente demais. É preciso recorrer a Deus por meio de orações precisas, tais como: “cura-me”, “descomplica-me”, “desamarra-me”, “liberta-me” e assim por diante. Quanto mais precisa for a súplica, maior será a sua eficácia. As orações devem ser tão perseverantes como as daquele amigo importuno da parábola de Jesus, que só parou de bater à porta de seu vizinho quando este o atendeu (Lc 11.5-8).

Quando entre nós, Jesus não se preocupou apenas com a salvação, apenas com o exorcismo, apenas com a multiplicação de pães e peixes, apenas com a cura de cegos, mudos, paralíticos e leprosos. Ele se preocupou também com aqueles que carregam dentro de si cargas demasiadamente volumosas. Certa feita, Jesus pronunciou as seguintes palavras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Em outra ocasião, Ele declarou: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4). O cuidado especial que Jesus dispensou à mulher samaritana (Jo 4.7-30), à mulher adúltera (Jo 8.1-11) e a Pedro, depois da tríplice negação (Jo 21.15-17), encoraja qualquer transtornado de espírito a buscar sua ajuda. Ele via as multidões e compadecia-se delas, “porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36).

Jesus sabe o que é tristeza, sabe o que é angústia, pois Ele as teve ali no Getsêmani: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38). Daí a conclusão da Epístola aos Hebreus: “Não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Portanto, é possível achegar-se confiadamente ao trono da graça, a fim de receber misericórdia em ocasião oportuna (Hb 4.16).



O bem estar espiritual

O bem-estar espiritual é uma necessidade. É tão real quanto o bem-estar físico. Um tem relação com o outro. O bem-estar físico afeta o bem-estar espiritual e o bem-estar espiritual afeta grandemente o bem-estar físico.

Depois de ter caído em si e de ter se arrependido do pecado cometido contra Urias, Davi não implorou apenas o perdão de Deus e a purificação de seu pecado. Ele também suplicou bem-estar espiritual: “Não me abandones, não tires de mim o teu Espírito. Dá-me de volta a alegria da tua salvação” (Sl 51.11-12, BV).

Se é difícil viver sem bem-estar físico, mais difícil ainda é viver sem bem-estar espiritual. A salvação não é apenas bem-aventurança futura. É também bem-aventurança presente: “Agora que fomos aceitos por Deus pela nossa fé nele, temos paz com ele por meio do nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1, BLH). A salvação não é apenas vida eterna. É também vida e vida em abundância hoje (Jo 10.10). O bem-estar espiritual começa aqui e agora, em meio à adversidade, e alcança o seu ápice na eternidade.

Sem bem-estar espiritual a alma não descansa, não sossega, não se alegra. É preciso perguntar à alma: “Por que te perturbas dentro de mim?” (Sl 42.5). É preciso sossegar a alma: “Volta, minha alma, ao teu sossego” (Sl 116.7). Para, então, conseguir o bem-estar espiritual: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). Não é o bom pastor que me faz repousar em pastos verdejantes, me leva para junto das águas de descanso e me refrigera a alma (Sl 23.2)?

Bem-estar espiritual significa basicamente ter paz com Deus em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer circunstância e em qualquer situação: “Deixo com vocês a minha paz; a minha paz lhes dou, não como o mundo costuma dar. Não se preocupem nem tenham medo” (Jo 14.27, BLH). A paz interior é fruto do Espírito (Gl 5.22). É a maior riqueza que você pode ter. Ela “está além da compreensão humana” e tem o propósito de guardar o coração e a mente daqueles que estão unidos com Cristo Jesus (Fp 4.7).

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